sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Assépsia

Eu sei que é dificil acreditar, é dificil entender o conceito, mas não julguem já os turcos, afinal ainda não vimos muitas infecções e continua tudo a correr ás mil maravilhas apesar das suas modernas técnicas de assépsia.


Primeiro devo contar que no primeiro dia nos falaram da importancia de trazer os nossos fatos de bloco e nós no dia seguinte levamos os nossos - a Gi levou o seu fato verde que não se engelha e eu levei o fato que "pedi emprestado" no São João, o facto é que deixavam sempre entrar a Gi no bloco cirurgico e a mim só com uma bata verde vestida, depois de muito tentar lá compreendemos a questão: é que eles não conhecem os fatos azuis do São João e estavam plenamente convencidos que aquilo era a minha roupa do dia a dia e não um fato cirurgico !!!


Compramos uns fatos cirurgicos iguais aos de cá porque aqui sim, há uma verdadeira moda para médicos e enfermeiros com fatos de diversas cores a condizerem com as mini meias e os bonés cirurgicos e as fitas que usam aos pescoço com os cartões de identificação - ou seja, um verdadeiro paraiso para as fashion addicted e a maior confusão para uma indecisa com eu nas cores.
Agora sim, agora nós entramos em qualquer local do hospital e mais, já nos tornamos tão turcas que ja vamos vestidas de casa porque toda a gente vai vestida de casa já com os fatos, os mesmo que utiliza para entrar no bloco operatório, porque estes sim estão desinfectados.


Para vos complicar ainda mais as ideias devemos dizer que os professores que não estão a usar fato cirurgico entram na mesma desde que vistam as tais batas verdes e até levam a sua chávena de chã para a sala de cirurgia e até pousam a sua chavena numa mesa do bloco para irem fazer palpação vaginal e a seguir continuar a beberem o seu chã.


Mas só para vos confudir ainda mais devemos dizer que hoje quando me perguntaram se queria ir ver a cesariana e eu disse que não podia porque so estva de bata e não tinha levado fato cirurgico eles responderam, não há problema levas a bata verde! - que bata verde? a bata que todos usam, que ainda ontem a noite a Gi usou para irmos ver os prematuros que acabaram de nascer, a mesma bata que toda a gente usa e que esta nestas condições:






Ora bem e lá fui eu de calças de ganga, t-shirt e bata verde, estive a 5 cm de distância da mesa da enfermeira instrumentista, afinal estamos na Turquia e "não vamos queimar etapes".

1º Noite de ER

Quase duas da manhã...
cansada, com dores nas pernas.

Ora bem:
............histerectomia por Adenocarcinoma do endométrio em mulher hipocoagulada por válvula cardiaca,
............biópsias do colo do útero, da vulva e curetagem endometrial,
.............sindrome de ataxia-telangiectasia em criança (nem nunca tinha ouvido falar de tal),
.............2 tentativas de suicidio (com o trifene 200 cá da terra - ou seja, um gajo tentou se suicidar com o medicamento que a mãe toma para as dores do período "o mundo está perdido", e com ritalina porque a criatura era e é hiperactiva),
..............várias criaturas com doenças inespecificas, e que também não conseguimos entender no nosso turco, mas que nos pareceu que os verdadeiros doentes eram os pais e não as crianças,
.............. uma metahemoglobinemia porque o puto foi circuncisado e o médico utilizou um anestésico local tipo pilocarpina (ainda não consegui entender esta ideia de circuncisarem os putos todos - quem entender que me explique),
..............2 gemeos prematuros com mãe fumadora, um com restrição de crescimento in utero, possivel desenvolvimento incompleto da função pulmonar dada a prematuridade e a não utilização de corticoesteroides previamente à cesariana (e foi aprender a dar oxigenio a criaturas de 1,700Kg e 2,500 Kg - que inesperadamente já me parecem grandes),
..............ir buscar outra criatura de horas de vida por causa da taquicardia e anda la a passear pelo hospital para chegar ao local das ICU de cá,
..............bem e deve ter havido mais alguma coisita...



mas depois destas horas todas a "minha idade já não me permite" e "não vamos queimar etapes"

Afinal onde é que eu estou localizada?

Ora bem esta é a imagem do google earth de onde eu vivo.
Onde está o pin amarelo é a residência com o circulo que na realidade está relvado e tem um jogo de xadrez gigante e á volta estão os edifícios onde existem os quartos, o meu edifício é onde está localizado o pin.
Depois à esquerda observamos um parque de estacionamento que é o parque do IKEA e mais á esquerda nessa direcção é p shopping Forum Bornova desenhado por italianos e que é muito semelhante aos que temos na zona de Lisboa, sem serem cobertos.
Depois na porção superior que tem construções é o quarteirão do hospital, sendo que cerca de 3/4 destas construções são mesmo hospitalares com os diversos serviços de especialidade e apenas os restante 1/4 é que pertencem a outras faculdades, e este pequeno pedaço faz parte do kampus da Ege Universitesi e muito superior a isto.
Depois da espécie de circunvalação continua a ser o Bairro de Bornova, uma espécie de Maia no distrito do Porto e é onde se localizam mais restaurantes e padarias, o metro para o centro da cidade e uma das zonas habitacionais de Izmir de classe média.
E se acharem que o hospital não pode ser estes prédios todos, estão enganados, pode sim, são imensos, do meu quarto ao hospital é pertinho e o pertinho de cá são 15 minutos a pé.

Mais informações culturais!




Já entendi mais umas coisitas (ou acho que entendi):

- os rapazes são circuncisados porque Maomé nasceu circuncisado e eles agora também têm a mania de que é mais higiénico.

- há a turban culture (usam os lenços na cabeça e andam todas tapadas, as mulheres, está claro), há a não turban culture (são pessoas ditas normais, ou seja, parecem ocidentais). depois dentro deste ultimo tipo há os que idolatram o Salazar de cá - o "Atartuk" - e os que não gostam dele - os primeiros colocam fotos do mesmo em todo o lado, desde o autocarro à casa de banho, os outros gozam com o facto e continuam a achar que foi um bocadinho autoritário.

Ora bem, conhecemos exemplares de todos os grupos,e como dizia Virgínia Remédios "as opiniões são como as vaginas, cada um tem a sua e só a dá quem quer".

A residência!

Já mostrei a localização geográfica do sitio onde moro, agora aqui vão umas fotos de como a residência até tem a sua piada estética!




quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Comida da cantina





E para não considerarem que na Turquia se morre à fome, vamos lá ver umas imagenzinhas dos célebres almoços na cantina dos alunos.

(sim, porque agora fizemos um upgrade e almoçamos gratuitamente na cantina dos médicos - mas ainda não tenho opinião sobre o upgrade na qualidade, apenas sobre o upgrade económico)

O que eu disse que nunca faria e já fiz aqui...

Pequena lista (ainda em activa construção) das coisas que eu sempre achei que nunca faria e afinal...
mas não são para repetir em Portugal


- comer sem faca, primeiro só com o garfo, agora até já uso o garfo e a colher como elas
- comer a refeição com a colher com a qual comi a sopa
- comer a refeição no mesmo prato em que comi a sopa
- limpar as mãos e os lábios ao pão porque não há guardanapos
- comer fruta como sobremesa para não magoar os anfitriões
- comer pepino cru pela mesma razão
- trazer pão da cantina e come lo em casa
- trazer fruta da cantina e dar a Gi para ela comer em casa (ainda não atingi o desespero de comer fruta em casa)
- comer do mesmo prato de 6 pessoas sem talheres: basta utilizar o pão como garfo e molha-lo na dita refeição
- comer tomate cru e comer ervas de salada que picam na garganta
- comer yougurte no meio da comida e comer yogurt como sobremesa
- chupar e deitar para o yogurt os quadradinhos de açucar porque não se desfazem no yogurt, sem ser com a ajuda da amilase da minha saliva
- ...


segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Início

Título:

38°27'3.42"N 27°12'54.49"L

é a localização do meu quarto no Kampus da Ege Universitesi, em Bornova, cidade de Izmir, região do Egeu, país Turquia, sub-continente de Ásia menor = Anatólia, continente Ásia.

Razão:
- conseguir colocar as fotos que não tenho paciência para mandar por e-mail
- não repetir a mesma história heroica de como sobrevivemos em cada telefonema
- não me esquecer de mil e uma aventuras quando passo mais de 2 dias sem falar com alguém em portugal
- não me esquecer das pequenas coisas daqui 25 anos quando voltar cá e como qualquer idoso mostrar à familia onde é que a avozinha viveu 4 meses
- mais algumas que agora não me lembro

Dúvida Existencial:
- será que isto imprimido e encapado em livro também daria para entregar como monografia de tese de mestrado?